Realidade

Ela esperou pacientemente, que o coelho viesse correndo, quase perdendo a hora. Ou talvez que o gato lhe aparecesse sorridente. Esperou pelo chapeleiro, pela vovozinha, pelo príncipe, pelo mundo encantado. Mas, já cansada, ela começava a ver que eles não apareceriam, que só existem nos contos de fadas mesmo.
Resolveu que era hora de deixar essa espera vazia, e fazer alguma coisa por si mesma. Era difícil desistir dos sonhos infantis, das brincadeiras, da espera pela história perfeita... Mas ela precisava mudar, seu coração mandava!
Levantou-se da beira da praia, olhou pela última vez as ondas quebrando, e relutante ainda com medo, deu as costas. Andando cada vez mais rápido, ela foi atrás daquilo que já não mais podia esperar. Ao invés de admirar a obra, era hora escolher os tons, mudar os desenhos. Está aprendendo que só sonho não chega, é preciso realidade. Suas fantasias, e os sonhos de criança continuam lá, e ela os vê sempre que quiser. Mas já não pode viver disso, já não se muda com as fases da lua... Nem se movimenta com as estrelas. Aprendeu caindo, que pra levantar é preciso força... E suportar a dor dos arranhões é difícil, mas ficar caída não dá!
Ela vai correndo, encontrar a realidade que não via há muito tempo! Tem medo do real, mas sabe que seus sonhos estarão lá para protegê-la sempre que precisar.

“Sereno acima de ti mesmo fita
A possibilidade erma e infinita.
De onde o real emerge inutilmente,
E só para pensares, sente!”
Fernando Pessoa